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O SOM DA GENTE

O SOM DA GENTE

23
Out15

A PARTIR DA CRUZ DO ROSSÃO

somdagente

placa.jpg

 A Rádio Lafões e O Som da Gente continua, nesta semana, a percorrer a Serra de Montemuro.

No Picão, virámos à direita. Subimos por uma estrada, aberta em 1975, e parámos lá no alto, no planalto, em territórios ainda do concelho de Castro Daire. Para a direita, Rossão e Campo Benfeito,. à esquerda, um novo acesso à Carvalhosa, em frente, a Gralheira.

Estamos numa altitude à volta dos 1150 metros.

 

cruz_rossão.jpg

Neste cruzamento de quatro caminhos, encontrava-se uma antiga cruz de que resta a base com inscrição ilegível.

A cruz servia para afastar os muitos perigos a que os caminhantes estavam sujeitos. Assim era vulgar construirem-se cruzes ou cruzeiros nas encruzilhadas.

Devido a esta cruz ainda hoje o sítio é conhecido por Cruz do Rossão.

capela.jpg 

No mesmo sítio está hoje uma minúscula capela, toda em pedra, com quatro pirâmides angulares que entretanto foram roubadas.

No primeiro de Julho de cada ano, aqui se celebra uma festa com feira anual e actualmente também com luta de bois.

Segundo me disseram, esta festa foi retomada em 1976, depois de ter sido interrompida por vários anos por falta de acordo quanto à data para a mesma. Uns queriam num dia fixo, como acontece na Ouvida, mesmo que calhasse em dia de fazer, outros queriam ao domingo.

carlos.jpg

Foi neste sítio que nos encontrámos com o bom amigo Carlos Silvestre um dos que melhor conhece a história da gente que humanizou esta serra.

Recorda-se bem do recomeço da festa/feira e também nos lembrou que este lugar era sítio para muitos desaguisados, ajustes de contas que acabavam em pancadaria com cada população a acudir pelos seus.

Este era também o lugar onde eram recebidos, em festa, os rebanhos da transumância que deixavam os baixios da Estrela e se dirigiam para estes montes a partir do S. João ou do S.Pedro.

Hoje, dezenas de eólicas dominam o azul do céu que cobre esta paisagem inóspita do Montemuro.

sepultura.jpg

A poucas centenas de metros da Cruz do Rossão, num monte atravessado por uma antiga canada, caminho dos tais rebanhos, estão duas sepulturas antropomórficas.

Uma outra, a que está na imagem, encontra-se em terrenos do nosso entrevistado, Carlos Oliveira Silvestre, à vista da povoação da Gralheira.

cabrum.jpg

Olhando, de frente a povoação da Gralheira e, a nossos pés, temos o ribeiro cabrum, que separa o lugar mais alto do concelho de Cinfães da povoação da Panchorra, já do concelho de Resende.

Por estes caminhos e estas pontes andaram muitos carvoeiros e almocreves que geralmente pernoitavam na Gralheira.

No Som da Gente desta semana, Carlos Silvestre fala-nos do Joaquim Maravilhas de Penude, Lamego, e de Alexandre Jorge, conhecido por Vila Maior, por ter nascido no lugar do mesmo nome pertencente à freguesia de Cabril.

Veio para a Gralheira com três anos e aqui chegou a velho. Deixou uma história de vida que dava um interessante filme de aventuras. Cavaleiro andante, de terra em terra, debaixo de tórrido calor, chuva ou neve, enfrentando os fenómenos da natureza e a agressividade de animais selvagens como os lobos.

Para além destas dificuldades naturais o perigo dos bandos que lhes saltavam nos caminhos era também uma ameaça constante. Alguns eram capazes de tudo, mesmo de matar.

Não era o caso do José Augusto de Feirão que era um ladrão tipo Zé do Telhado. Com dinheiro no bolso, à sua volta ninguém passava fome. Algumas facetas da sua vida são-nos também relatadas no programa desta semana.

cabrum1.jpg

Hoje terminamos com interessante fotografia de Alcides Riquito da ponte romana da Panchorra.

Ponte sobre o ribeiro Cabrum que nasce nos montes da Gralheira e a quem Carlos Silvestre no seu livro Crónicas da Serra se refere desta modo: Estendido do Douro até à Gralheira, nos Tojos pousas a cabeça e ergues os teus braços até aos píncaros do planalto Montemurano. (...)

(...) Nos dedos és uma gota de água, uma bolha, uma lágrima. Depois passas a um fiozinho ténue, mesquinho, que caminha de gatas, medroso e trémulo, em galerias subterrâneas ou entre arbustos e penedos, até Penacova.

Fotos: Alcides Riquito

 

 

 

 

 

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