MARCENEIRO E MÚSICO
Neste início de Março, naturalmente invernoso, com uma chuva fria, O Som da Gente foi até Carvalhais para continuar a registar e a realçar quem muito faz pela nossa cultura popular.
Continuamos a encontrar no seio do nosso povo anónimo gente com muito talento.
Neste caso, com grande aptidão para a profissão e para a música.
De seu nome Alberto Soares de Pinho, é aqui conhecido por Alberto Casanova.
Herdou a alcunha da família nomeadamente do avô que chegou a estar emigrado no Brasil.
Este familiar já era mestre na arte da carpintaria.
O neto também veio a demonstrar queda para trabalhar a madeira. Como carpinteiro, foi andando com o pai mas este não dava o devido valor ao perfeccionismo do filho. Contou-nos que, por sua iniciativa, construiu uma canga para as vacas. Tão perfeita ficou a obra, que o cliente não regateou o preço.
O trabalho dos antigos carpinteiros ia da construção de casas, aos móveis rudimentares e às alfaias agrícolas.
Utilizavam ferramentas artesanais algumas feitas pelos próprios artistas, como o amigo Alberto nos mostrou. Utilizar estas ferramentas com perfeição e mestria era o que distinguia os bons carpinteiros e marceneiros.
Mais tarde, Alberto Casanova fazia os próprios ferros para as máquinas eléctricas, tendo em vista trabalhos específicos.
Foi o que se passou com as almofadas das portas actuais da igreja paroquial de Carvalhais, molde que vimos do lado direito da imagem.
Tal era a perfeição que o povo acreditou que a obra era dos artistas de Braga, especialistas em arte sacra.
Os milagres dos santos da terra continuam a não fazer fé.
Como já escrevemos acima, Alberto Casanova não tem jeito apenas para a sua profissão de marceneiro, o seu ganha pão.
Como a vida não deve ser só trabalho, nas horas vagas quis dar asas a outro dom, a música.
Pegou num velho bandolim, que havia lá em casa, e aí vai ele à procura das melodias tradicionais que ouvia na sua juventude.
Nunca aprendeu a tocar por pauta. Toca de ouvido e, muito bem.
Com outros músicos autodidactas fez parte da extinta Tuna de Carvalhais.
Hoje, com o bandolim ou o banjo, actua em vários ranchos do concelho de S. Pedro do Sul. Passou a ser imprescindível nas suas tocatas.
A certa altura, Alberto Casanova quis modernizar a carpintaria. Precisava de vinte e cinco contos para comprar uma máquina. Sugeriu que o pai lhos emprestasse mas não foi bem sucedido.
Então, o irmão arranjou-lhe um contrato de trabalho e emigrou para França.
Aí, para além do trabalho, começou a tocar acordeão e fez parte de alguns grupos que recordavam o nosso folclórico naquele país.
Hoje, Alberto Casanova continua a tocar o banjo, o acordeão e o bandolim. Para nós este é o instrumento preferido. É mais da nossa tradição, fazia parte das antigas tunas e é muito mais agradável ao ouvido.
Toda a música do próximo Som da Gente é do Alberto Casanova e foi gravada ao vivo.
Fotos: Alcides Riquito