CAPELA DE NOSSO SENHOR DA AGONIA
O próximo programa de O Som da Gente foi gravado na capela de Nosso Senhor da Agonia, S. Miguel do Mato, nos limites com as freguesias de Ribafeita e Bodiosa.
Mais uma vez contámos com a colaboração do bom amigo, o escritor Fernando Vale.
Como no S. Salvador do Mundo, lá na Pesqueira, sobre o Douro, aqui também uma cruz marca a paisagem. Situa-se alguns metros acima da capela, sobre penedos que cobrem grutas que antes e, certamente também agora, são o refúgio de raposas.
Talvez pela existência desta penedia, o lugar onde se situa a capela de Nosso Senhor da Agonia é conhecido por Frádega.
A capela surge-nos, isolada na paisagem, quando seguimos na Nacional 16, do nosso lado direito, no sentido de S. Pedro do Sul para Viseu.
Daqui e, se olharmos para poente, estendem-se as propriedades que outrora pertenceram à Comenda de Ansemil, à Casa da Quinta da Comenda que, num forte poder feudal que chegou aos nossos dias, pouco mais deixava às classes mais humildes que uma difícil subsistência.
Para além de umas pequenas leiras entre as propriedades do senhorio, à plebe restavam as capelas e os santos da sua devoção a quem rezavam e faziam anualmente as suas romarias, como acontece ainda hoje no Senhor da Agonia.
Sobre esta devoção ao Cristo crucificado, socorremo-nos de uma publicação do Rancho de Vilar que, entre a história e a lenda, nos descreve o que teria acontecido, neste lugar, no século dezoito.
O culto ao Senhor da Agonia surge em 1750, quando é encontrada uma Imagem de Cristo esculpida num pedestal de pedra. Sobre o aparecimento desta imagem, o abade da Igreja de S. Miguel do Mato, José Pereira Baptista, em 1818, conta o seguinte: “No dia 11 de Agosto de 1750, Maria Pereira, casada com Manuel Rodrigues dos Santos, que morava nas últimas casas de Moçâmedes para Sul, tinha mandado os seus filhos pequenos buscar lenha ao monte, onde avistaram o Senhor. Perante a demora dos filhos, ela saiu de casa para os procurar. Encontrou-os a brincar no sítio onde o Senhor apareceu. Ralhou-lhes, mandou-os apanhar lenha e sentou-se a fiar a sua roca sobre o penedo onde estava o Senhor. Passado algum tempo, olhou para baixo, por uns buracos entre penedos, onde estavam alguns fetos e reparou que eles abanavam como se fossem sacudidos por grande vendaval. Olhou para os buracos e para o céu, não havia vento. Continuou a fiar e, daí a pouco, o fuso caiu-lhe para os fetos que abanavam. Desceu e foi buscar o fuso, encontrando-o encostado a um braço do Senhor, que tinha o resto do corpo coberto de musgo. De imediato mandou chamar o Abade, que era António Ferreira Cardoso dos Cardosos de S. Pedro do Sul. Chegado ao local, examinou as lajes e mandou repicar os sinos. A notícia correu rapidamente pela região e comoveu imensa gente que, toda a noite, cobriu a montanha com muitas fogueiras e muita alegria. Durante anos, foram se juntando as esmolas com que o Sr. Abade fez a capela, como hoje se encontra.
A construção da capela não foi imediata ao acontecimento. Em 1758, foram chamados alguns pedreiros para comporem as pedras de maneira que o pedestal com o crucifixo ficasse mais exposto. O Pároco conta, ainda, que lhe mandou fazer um pequeno nicho aberto e com uma grade, “não tinha mais que 20 palmos em quadrado”. Anos mais tarde, a devoção do povo, materializada em esmolas, edificaria a Capela do Nosso Senhor da Agonia. Em 26 de Setembro de 1789, será concedida licença para a sua bênção.
Todos os anos, a 11 de Agosto, as portas da Capela abrem-se para a celebração da missa e o povo continua a aparecer com a mesma devoção e alegria de sempre. Actualmente, a realização da Festa está ao encargo dos habitantes de Lourosa da Comenda.
Na reportagem do próximo Som da Gente, o Dr. Fernando Vale fala-nos ainda da capela de S. Macário de Vasconha e do costume dos namorados ali fazerem juras de amor materializadas na união de duas mimosas floridas, e da Capela do Monte do Castelo, na vila de Vouzela, dedicada a Nossa Senhora da Esperança.
Aqui, a história de D. Vasco de Almeida, primo de o Decepado, que terá sido o primeiro ermitão da capela, veio dar origem à devoção a Nossa Senhora.