Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O SOM DA GENTE

O SOM DA GENTE

08
Mai15

NA TERRA DE SALAZAR

somdagente

salazar_placa.jpg

É aqui que estão as minhas raízes! Nas leiras e pinhais da minha aldeia, nos horizontes recortados pelo Caramulo e pela Estrela.

 

Ao lado da EN 2, no Vimieiro, em Santa Comba Dão, esta placa assinala a casa onde nasceu António de Oliveira Salazar.

Depois de ter sido lente na Universidade de Coimbra e Ministro das Finanças, em 1930, chega a Presidente do Conselho de Ministros, cargo que exerceu durante 38 anos. Em regime totalitário, Salazar teve a ajuda de uma polícia política que não evitou um atentado, em 1939, o sequestro do navio Santa Maria, uma tentativa de golpe de estado por parte de Botelho Moniz, a perda de Goa, Damão e Diu e o despoletar da Guerra Colonial.

A estas dores de cabeça do antigo regime, podemos acrescentar a contestação do Bispo do Porto,a revolta de Beja e a crise académica, nos anos sessenta.

As maiores alegrias do tempo de Salazar prendem-se com o evitar do envio de tropas portuguesas para a II Guerra Mundial, a Exposição do Mundo Português, em 1943, e principalmente o saneamento das finanças públicas.

Esta longa carreira política foi sempre aceite por Salazar como uma missão patriótica. Mas, mesmo esta predestinação do destino foi alvo do humor, muito próprio, que o caracterizava.

Quando tomou conta das Finanças, logo o antigo condiscípulo de Coimbra, Cardeal Cerejeira lhe enviou um bilhete com a missiva: António, foi Deus que te chamou para salvar a Nação.  A isto prontamente respondeu:Manuel, quem me chamou foi o José Vicente de Freitas, o presidente do Governo.

A personalidade de Salazar foi sempre mais de um rural que de um citadino:

É bom pisar o chão onde fortalecem as minhas cepas e cresce o milho das minhas broas.

Foi à procura desses traços de ruralidade e do que resta dos sinais de Salazar, no Vimieiro, que O Som da Gente foi até Santa Comba Dão.

Encontrámo-nos com um dois dois sobrinhos netos, Rui Salazar de Lucena e Melo.

 

Rui Salazar, nascido em Coimbra, filho de um médico militar e de uma filha de Laura, a irmã mais velha de Salazar, vive hoje ao lado da escola que o povo diz que foi mandada construir pelo ex-governante. Ora, pelo que o sobrinho nos contou, não é bem assim.

Esta escola-cantina foi doada à terra por uns brasileiros que, com esta oferta, quiseram presentear o Presidente do Conselho de Ministros.

Segundo nos contou o mesmo familiar, esta não foi a primeira escola  do Vimieiro. Essa era numa casa térrea, em terrenos do pai de Salazar, a quem o Ministério da Educação pagava renda.

sal_casa.jpg

Esta é actualmente a parte da casa onde nasceu e viveu Salazar. Era por esta porta que geralmente Salazar entrava e não pela frente que ladeia a estrada Viseu - Coimbra.

Embora gostasse de dizer que era pobre filho de pobres, recuando no tempo, a casa e a quinta situam a sua família na classe média.

O pai de Salazar, no início, teria ganho algum dinheiro com o alojamento do pessoal da renovação da Linha da Beira Alta e, como feitor dos Perestrelo, também teria angariado posses para comprar algumas das propriedades desta família fidalga.

A esta herança, Salazar teria ainda acrescentado mais algumas propriedades que entretanto adquiriu a outros vizinhos.

A quinta que foi atravessada pelo IP3, actualmente em estado de abandono, revela ainda o que seria, na altura, uma boa herdade de produção agrícola, a nível de cereais e animais domésticos

sal_garrafa.jpg

Para além das propriedades junta à casa, Salazar plantou, noutro local, uma vinha que produzia o vinho Quinta das Ladeiras. Ainda hoje restam algumas garrafas com vinho do seu tempo.

sal_cama.jpg

Quando entramos na casa, pela tal porta das traseiras, lá encontramos também,  desmontada, a mobília de quarto.

Nos outros aposentos, dezenas de sacos de lixo guardam livros, outros documentos e objectos.

Na Câmara Municipal muitos outros bens pessoais de Salazar esperam também classificação e tratamento.

A preservação da casa e de tudo isto passa pelo entendimento com o outro sobrinho de Salazar visto que Rui Salazar já doou a sua parte à autarquia.

 

Noutra casa do Vimeiro, estão bens que vieram de Lisboa. Uns sofás, uma secretária e o rádio onde Salazar ouvia a BBC e a Voz de Argel, em ondas curtas. Estes são bens particulares de Salazar, reafirma-nos insistentemente o sobrinho. O que era do estado ficou em Lisboa, outro espólio está na Torre do Tombo.

Este material está numa casa, perto da estação ferroviária do Vimieiro, e foi já sede do N.E.O.S. (Núcleo de Estudos Oliveira Salazar que, segundo nos disseram, brevemente passará a ter sede nos arredores de Lisboa.

sal_carro.jpg

Antes de deixarmos a casa e quinta de Salazar, reparámos num velho automóvel que era do pai de Rui Salazar e que o sobrinho emprestava ao tio quando Salazar passava férias no Vimieiro.

Continua a distinção entre o particular e o público. Em férias, nem o carro, nem o motorista eram do estado.

sal_campa.jpg

 

Salazar repousa hoje, em silêncio, por baixo de pesada laje tosca de granito, no cemitério do Vimieiro. Se para alguns continua a merecer respeito, a os outros, também já não mete medo. Pelo estado de abandono dos seus bens, a muitos dos seus conterrâneos falta sobretudo coragem para decidirem o que fazer com este património.

Coragem que não faltou a um comerciante de Torres Novas que, em pleno PREC, veio ao Vimieiro colocar pesada pedra que ainda hoje se encontra na cabeceira da sepultura e onde se pode ler: havemos de chorar os mortos se os vivos o não merecerem.

 

Os nomes dos políticos só devem ser dados a monumentos e obras públicas, cem ou duzentos anos depois da sua morte...

Acreditando nestas palavras de Salazar, o tempo de se fazer a história ainda não chegou.

Até lá, vão-se divulgando factos e opiniões que podem, ou não, ajudar a fazer essa história.

Por agora, o julgamento da vida deste e doutros políticos  fica para o ouvinte ou o leitor. Não nos substituímos a ninguém em juízos de valor.

Para o post de hoje socorremo-nos do livro O Diário de Salazar, da autoria de António Trabulo e do site Vidas Lusófonas onde Fernando Correia da Silva, exilado político, no tempo de Salazar, faz interessante biografia da personalidade a que se refere o programa de hoje. Faça uma visita: http://www.vidaslusofonas.pt/salazar.htm.

Fotos:Alcides Riquito

 

 

Mais sobre mim

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2015
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2014
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2013
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2012
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2011
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2010
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2009
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2008
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2007
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub