EM TERRAS ONDE A PEDRA CANTA
Na visita de O Som da Gente à freguesia de Alpendorada e Matos, o Sr. José Manuel Vieira Antunes foi o nosso guia.
Para além de ter sido um dos fundadores do Rancho Folclórico São João Baptista de Alpendorada e de também estar ligado a outras colectividades da terra, foi aqui, durante um quarto de século, Presidente da Junta.
Durante o seu tempo de autarca teve a felicidade de ver progredir Alpendorada com a construção das mais variadas infra-estruturas e equipamentos. A Escola Eb2/3 foi uma delas. Ao tempo, foi uma decisão do então Primeiro Ministro Francisco Sá Carneiro que lhe comunicou telefonicamente a aprovação, pouco tempo antes de falecer no fatídico acidente de aviação.
Alpendorada, que é vila desde 1991, fica além Douro, em frente a terras de Cinfães, na fronteira da Beira Litoral, com o Douro Litoral e a Beira Alta e na confluência de três rios: o Douro, o Tâmega e o Paiva.
Esta é a terra
Esta é arte
Esta é a pedra
Que faz de nós parte
Para comemorar a passagem do milénio, a Junta de Freguesia de Alpendorada e Matos mandou erguer este monumento ao pedreiro.
A arte da pedra marca a história e é a principal actividade económica desta terra.
Daqui saiu muita pedra para calcetar as ruas de muitas vilas e cidades. Para o Porto era transportada de barco, via rio Douro, e à cabeça das pedreiras até ao rio.
Da mesma pedra se fizeram muitos palácios da cidade invicta e ainda muitos edifícios públicos na região como é o caso das antigas escolas primárias.
Das mãos dos pedreiros devastadores ou dos canteiros de Alpendorada saiu obras de arte que há-de perdurar por muitos séculos como é o caso da Ponte Duarte Pacheco em Entre-os-Rios.
A poucos metros, a norte, deste monumento ao pedreiro, encontramos um outro, muito mais antigo. Um arco em granito a que chamam Memorial. Diz a história e a lenda que este monumento marca a passagem do cortejo fúnebre da Rainha Santa Mafalda por este sítio quando se dirigia de Rio Tinto para Arouca.
Mas a história de Alpendorada não se resume à arte da pedra e ao Memorial da Rainha Santa Mafalda.
Aqui foi escrito o primeiro documento notarial, redigido em latim bárbaro, forma que viria a dar origem ao Português. Este documento tem a data de seiscentos e noventa.
Mas, a nível dos monumentos, o Mosteiro de Alpendorada é considerado não só o principal da terra mas o de toda esta região.
Entre a história e a lenda, sabemos que a primeira edificação teria sido da iniciativa do clérigo Velino, nos meados do séc. XI, portanto ainda antes da fundação da nossa nacionalidade.
O Mosteiro de Alpendorada, até 1834, tornou-se numa das principais casas beneditinas a nível nacional.
Ligadas à memória desta casa estão as imensas rendas que o mosteiro recebia das inúmeras propriedades que possuía na região. Estes bens serviam para pagar os salários dos trabalhadores da quinta e ainda para socorrer os pobres que se abeiravam do abundante celeiro da casa.
A própria quinta tinha enormes pomares onde destacava a produção de laranja. O vinho verde e o azeite eram outros produtos. A azenha de quatro mós e o alambique, que ainda hoje se encontram no edifício, atestam a produção destes bens.
Depois de ter passado por diversas vicissitudes, principalmente depois de 25 de Abril de 1974, o Mosteiro de Alpendorada está hoje transformado numa unidade hoteleira que aproveita não só o edifício principal mas também outros distribuídos pela quinta.
Assim e de outros modos, se continua a escrever a história que contou, ao longo dos séculos, com a intervenção de nobres preponderantes na vida nacional, alguns deles também ligados às muitas lendas que povoam o imaginário popular ligado a este lugar.
Resta acrescentar que o Mosteiro de Alpendorada tinha uma das mais importantes bibliotecas do Reino que enriqueceu os arquivos distritais de Braga, Porto e ainda o Arquivo Nacional da Torre do Tombo.