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O SOM DA GENTE

O SOM DA GENTE

04
Mar16

MARCENEIRO E MÚSICO

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Neste início de Março, naturalmente invernoso, com uma chuva fria, O Som da Gente foi até Carvalhais para continuar a registar e a realçar quem muito faz pela nossa cultura popular.

Continuamos a encontrar no seio do nosso povo anónimo gente com muito talento.

Neste caso, com grande aptidão para a profissão e para a música.

 

De seu nome Alberto Soares de Pinho, é aqui conhecido por Alberto Casanova.

Herdou a alcunha da família nomeadamente do avô que chegou a estar emigrado no Brasil.

Este familiar já era mestre na arte da carpintaria.

O neto também veio a demonstrar queda para  trabalhar a madeira. Como carpinteiro, foi andando com o pai mas este não dava o devido valor ao perfeccionismo do filho. Contou-nos que, por sua iniciativa, construiu uma canga para as vacas. Tão perfeita ficou a obra, que o cliente não regateou o preço. 

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O trabalho dos antigos carpinteiros ia da construção de casas, aos móveis rudimentares e às alfaias agrícolas.

Utilizavam ferramentas artesanais algumas feitas pelos próprios artistas, como o amigo Alberto nos mostrou. Utilizar estas ferramentas com perfeição e mestria era o que distinguia os bons carpinteiros e marceneiros.

Mais tarde, Alberto Casanova fazia os próprios ferros para as máquinas eléctricas, tendo em vista trabalhos específicos.

Foi o que se passou com as almofadas das portas actuais da igreja paroquial de Carvalhais, molde que vimos do lado direito da imagem.

Tal era a perfeição que o povo acreditou que a obra era dos artistas de Braga, especialistas em arte sacra.

Os milagres dos santos da terra continuam a não fazer fé.

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Como já escrevemos acima, Alberto Casanova não tem jeito apenas para a sua profissão de marceneiro, o seu ganha pão.

Como a vida não deve ser só trabalho, nas horas vagas quis dar asas a outro dom, a música.

Pegou num velho bandolim, que havia lá em casa, e aí vai ele à procura das melodias tradicionais que ouvia na sua juventude.

Nunca aprendeu a tocar por pauta. Toca de ouvido e, muito bem.

Com outros músicos autodidactas fez parte da extinta Tuna de Carvalhais.

Hoje, com o bandolim ou o banjo, actua em vários ranchos do concelho de S. Pedro do Sul. Passou a ser imprescindível nas suas tocatas.

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A certa altura, Alberto Casanova quis modernizar a carpintaria. Precisava de vinte e cinco contos para comprar uma máquina. Sugeriu que o pai lhos emprestasse mas não foi bem sucedido.

Então, o irmão arranjou-lhe um contrato de trabalho e emigrou para França.

Aí, para além do trabalho, começou a tocar acordeão e fez parte de alguns grupos que recordavam o nosso folclórico naquele país.

Hoje, Alberto Casanova continua a tocar o banjo, o acordeão e o bandolim. Para nós este é o instrumento preferido. É mais da nossa tradição, fazia parte das antigas tunas e é muito mais agradável ao ouvido.

Toda a música do próximo Som da Gente é do Alberto Casanova e foi gravada ao vivo.

Fotos: Alcides Riquito

18
Dez15

LITERATURA INFANTIL

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Em tempo de Natal,o próximo programa de O Som da Gente vai abordar a Literatura Infantil com o nosso bem conhecido Dr. Fernando Vale. No âmbito da sua produção literária, este autor já leva mais de vinte e cinco livros publicados.

Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, pela Universidade de Coimbra, obteve depois o grau de Mestre, em Literatura Brasileira e Literaturas Africanas, na Universidade de Lisboa, em 1989.

Desenvolveu ainda um dos estudos mais completos sobra a obra infantil de Monteiro Lobato, o pai da literatura infantil no Brasil. Foi nas histórias escritas por este autor que se baseou o bem conhecido programa da Globo, o Sítio do Pica-pau Amarelo.

Na entrevista que nos concedeu, Fernando Vale entende que João de Deus e Ana de Castro Osório são os fundadores da literatura infantil portuguesa, como o foi, na brasileira, Monteiro Lobato.

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Ana de Castro Osório, natural de Mangualde, publicou, em fascículos, que chegavam a casa dos leitores por assinatura, dezenas de histórias infantis.

Essas revistas com contos para crianças estão ainda hoje no arquivo do Dr. Fernando Vale, autenticados com a marca dos CTT como se pode observar nesta fotografia.

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Mais tarde, viria a publicar, em diversos livros, contos tradicionais dos países lusófonos e os Contos Populares Portugueses, livro traduzido em quatro línguas destinado a turistas e luso-descendentes

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Outra obra interessante foi a que abordou as histórias tradicionais de países europeus. No âmbito do ensino a estrangeiros, no programa Novas Oportunidades, Fernando Vale contou para este livro, com a colaboração dos alunos, imigrantes oriundos de diversos países.

Num intercâmbio cultural com as câmara de Vouzela e Tondela, conseguiu publicar, em dois anos, livros que foram distribuídos às populações pelas aldeias.

Numa incursão pela escrita dramática, escreveu também algumas obras infantis que foram representadas pelos alunos do Colégio da Via Sacra.

Oferecer um livro e levar os mais novos a ler ou a ouvir uma história tradicional é, certamente, uma boa lembrança em tempo de Natal.

Os mais de 25 livros que Fernando Vale já publicou podem contribuir para isso.

 

 

 

20
Nov15

CAPELA DE NOSSO SENHOR DA AGONIA

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O próximo programa de O Som da Gente foi gravado na capela de Nosso Senhor da Agonia, S. Miguel do Mato, nos limites com as freguesias de Ribafeita e Bodiosa.

Mais uma vez contámos com a colaboração do bom amigo, o escritor Fernando Vale.

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Como no S. Salvador do Mundo, lá na Pesqueira, sobre o Douro, aqui também uma cruz marca a paisagem. Situa-se alguns metros acima da capela, sobre penedos que cobrem grutas que antes e, certamente também agora, são o refúgio de raposas.

Talvez pela existência desta penedia, o lugar onde se situa a capela de Nosso Senhor da Agonia é conhecido por Frádega.

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A capela surge-nos, isolada na paisagem, quando seguimos na Nacional 16, do nosso lado direito, no sentido de S. Pedro do Sul para Viseu. 

Daqui e, se olharmos para poente, estendem-se as propriedades que outrora pertenceram à Comenda de Ansemil, à Casa da Quinta da Comenda que, num forte poder feudal que chegou aos nossos dias, pouco mais deixava às classes mais humildes que uma difícil subsistência.

Para além de umas pequenas leiras entre as propriedades do senhorio, à plebe restavam as capelas e os santos da sua devoção a quem rezavam e faziam anualmente as suas romarias, como acontece ainda hoje no Senhor da Agonia.

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Sobre esta devoção ao Cristo crucificado, socorremo-nos de uma publicação do Rancho de Vilar  que, entre a história e a lenda, nos descreve o que teria acontecido, neste lugar, no século dezoito.

O culto ao Senhor da Agonia surge em 1750, quando é encontrada uma Imagem de Cristo esculpida num pedestal de pedra. Sobre o aparecimento desta imagem, o abade da Igreja de S. Miguel do Mato, José Pereira Baptista, em 1818, conta o seguinte: “No dia 11 de Agosto de 1750, Maria Pereira, casada com Manuel Rodrigues dos Santos, que morava nas últimas casas de Moçâmedes para Sul, tinha mandado os seus filhos pequenos buscar lenha ao monte, onde avistaram o Senhor. Perante a demora dos filhos, ela saiu de casa para os procurar. Encontrou-os a brincar no sítio onde o Senhor apareceu. Ralhou-lhes, mandou-os apanhar lenha e sentou-se a fiar a sua roca sobre o penedo onde estava o Senhor. Passado algum tempo, olhou para baixo, por uns buracos entre penedos, onde estavam alguns fetos e reparou que eles abanavam como se fossem sacudidos por grande vendaval. Olhou para os buracos e para o céu, não havia vento. Continuou a fiar e, daí a pouco, o fuso caiu-lhe para os fetos que abanavam. Desceu e foi buscar o fuso, encontrando-o encostado a um braço do Senhor, que tinha o resto do corpo coberto de musgo. De imediato mandou chamar o Abade, que era António Ferreira Cardoso dos Cardosos de S. Pedro do Sul. Chegado ao local, examinou as lajes e mandou repicar os sinos. A notícia correu rapidamente pela região e comoveu imensa gente que, toda a noite, cobriu a montanha com muitas fogueiras e muita alegria. Durante anos, foram se juntando as esmolas com que o Sr. Abade fez a capela, como hoje se encontra.

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A construção da capela não foi imediata ao acontecimento. Em 1758, foram chamados alguns pedreiros para comporem as pedras de maneira que o pedestal com o crucifixo ficasse mais exposto. O Pároco conta, ainda, que lhe mandou fazer um pequeno nicho aberto e com uma grade, “não tinha mais que 20 palmos em quadrado”. Anos mais tarde, a devoção do povo, materializada em esmolas, edificaria a Capela do Nosso Senhor da Agonia. Em 26 de Setembro de 1789, será concedida licença para a sua bênção.

Todos os anos, a 11 de Agosto, as portas da Capela abrem-se para a celebração da missa e o povo continua a aparecer com a mesma devoção e alegria de sempre. Actualmente, a realização da Festa está ao encargo dos habitantes de Lourosa da Comenda.

 

Na reportagem do próximo Som da Gente, o Dr. Fernando Vale fala-nos ainda da capela de S. Macário de Vasconha e do costume dos namorados ali fazerem juras de amor materializadas na união de duas mimosas floridas, e da Capela do Monte do Castelo, na vila de Vouzela, dedicada a Nossa Senhora da Esperança.

Aqui, a história de D. Vasco de Almeida, primo de o Decepado, que terá sido o primeiro ermitão da capela, veio dar origem à devoção a Nossa Senhora.

 

23
Out15

A PARTIR DA CRUZ DO ROSSÃO

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 A Rádio Lafões e O Som da Gente continua, nesta semana, a percorrer a Serra de Montemuro.

No Picão, virámos à direita. Subimos por uma estrada, aberta em 1975, e parámos lá no alto, no planalto, em territórios ainda do concelho de Castro Daire. Para a direita, Rossão e Campo Benfeito,. à esquerda, um novo acesso à Carvalhosa, em frente, a Gralheira.

Estamos numa altitude à volta dos 1150 metros.

 

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Neste cruzamento de quatro caminhos, encontrava-se uma antiga cruz de que resta a base com inscrição ilegível.

A cruz servia para afastar os muitos perigos a que os caminhantes estavam sujeitos. Assim era vulgar construirem-se cruzes ou cruzeiros nas encruzilhadas.

Devido a esta cruz ainda hoje o sítio é conhecido por Cruz do Rossão.

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No mesmo sítio está hoje uma minúscula capela, toda em pedra, com quatro pirâmides angulares que entretanto foram roubadas.

No primeiro de Julho de cada ano, aqui se celebra uma festa com feira anual e actualmente também com luta de bois.

Segundo me disseram, esta festa foi retomada em 1976, depois de ter sido interrompida por vários anos por falta de acordo quanto à data para a mesma. Uns queriam num dia fixo, como acontece na Ouvida, mesmo que calhasse em dia de fazer, outros queriam ao domingo.

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Foi neste sítio que nos encontrámos com o bom amigo Carlos Silvestre um dos que melhor conhece a história da gente que humanizou esta serra.

Recorda-se bem do recomeço da festa/feira e também nos lembrou que este lugar era sítio para muitos desaguisados, ajustes de contas que acabavam em pancadaria com cada população a acudir pelos seus.

Este era também o lugar onde eram recebidos, em festa, os rebanhos da transumância que deixavam os baixios da Estrela e se dirigiam para estes montes a partir do S. João ou do S.Pedro.

Hoje, dezenas de eólicas dominam o azul do céu que cobre esta paisagem inóspita do Montemuro.

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A poucas centenas de metros da Cruz do Rossão, num monte atravessado por uma antiga canada, caminho dos tais rebanhos, estão duas sepulturas antropomórficas.

Uma outra, a que está na imagem, encontra-se em terrenos do nosso entrevistado, Carlos Oliveira Silvestre, à vista da povoação da Gralheira.

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Olhando, de frente a povoação da Gralheira e, a nossos pés, temos o ribeiro cabrum, que separa o lugar mais alto do concelho de Cinfães da povoação da Panchorra, já do concelho de Resende.

Por estes caminhos e estas pontes andaram muitos carvoeiros e almocreves que geralmente pernoitavam na Gralheira.

No Som da Gente desta semana, Carlos Silvestre fala-nos do Joaquim Maravilhas de Penude, Lamego, e de Alexandre Jorge, conhecido por Vila Maior, por ter nascido no lugar do mesmo nome pertencente à freguesia de Cabril.

Veio para a Gralheira com três anos e aqui chegou a velho. Deixou uma história de vida que dava um interessante filme de aventuras. Cavaleiro andante, de terra em terra, debaixo de tórrido calor, chuva ou neve, enfrentando os fenómenos da natureza e a agressividade de animais selvagens como os lobos.

Para além destas dificuldades naturais o perigo dos bandos que lhes saltavam nos caminhos era também uma ameaça constante. Alguns eram capazes de tudo, mesmo de matar.

Não era o caso do José Augusto de Feirão que era um ladrão tipo Zé do Telhado. Com dinheiro no bolso, à sua volta ninguém passava fome. Algumas facetas da sua vida são-nos também relatadas no programa desta semana.

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Hoje terminamos com interessante fotografia de Alcides Riquito da ponte romana da Panchorra.

Ponte sobre o ribeiro Cabrum que nasce nos montes da Gralheira e a quem Carlos Silvestre no seu livro Crónicas da Serra se refere desta modo: Estendido do Douro até à Gralheira, nos Tojos pousas a cabeça e ergues os teus braços até aos píncaros do planalto Montemurano. (...)

(...) Nos dedos és uma gota de água, uma bolha, uma lágrima. Depois passas a um fiozinho ténue, mesquinho, que caminha de gatas, medroso e trémulo, em galerias subterrâneas ou entre arbustos e penedos, até Penacova.

Fotos: Alcides Riquito

 

 

 

 

 

17
Out15

SERRANITAS DA GRALHEIRA

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Maria Helena Coelho Silvestre deixou Lisboa, onde nasceu, e regressou às origens dos seus antepassados par ajudar a criar as Serranitas da Gralheira, para fazer peças de artesanato baseadas nos materiais e artes tradicionais.

O amor que tem à terra dos pais é confessada na permanente memória da avó.

Foi para conhecer esta associação, que leva os mais novos a animar o turismo, ao mesmo tempo que tenta preservar a tradição e a cultura serrana, que O Som da Gente e a Rádio Lafões se deslocou mais uma vez à povoação mais alta do concelho de Cinfães.

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A casa tradicional da Gralheira caracteriza-se por paredes grossas, em granito, muitas vezes tosco, dobradas porque os invernos são frios e rigorosos. A cobertura tradicional era em colmo, a palha do centeio.

Os quartos eram pequenos com uma pequena janela. Mobiliário simples. Para além da cama e de uma pequena caixa, para guardar a roupa, havia ainda um berço destinado a embalar os mais novos destas famílias tradicionalmente numerosas.

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A cozinha é espaçosa  com a boca do forno voltada para a lareira, esta mais funda que o resto da casa, com bancos em redor para receber os amigos nas longas noites dos serões.

É nesta casa tradicional da Gralheira que as Serranitas  têm a sua exposição de artesanato com peças para vender aos visitantes ao lado de outras que faziam parte da vida quotidiana dos habitantes da Gralheira.

Fotos:Alcides Riquito

02
Out15

CENTENÁRIO DAS MINAS DA BEJANCA

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O Dr. Fernando Vale, nasceu no lugar de Lufinha, freguesia de Ribafeita, concelho de Viseu e vive a dois passos deste lugar, em Lourosa da Comenda, concelho de Vouzela.

Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas. Para além da docência, tem vindo a registar grande actividade literária e editorial.

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 A última obra do Dr. Fernando Vale é uma edição feita pelo Município de Vouzela.

Minas da Bejanca, História(s) de Terras e Gentes

Como o próprio autor refere, em nota prévia, esta obra pretende reconstituir, analisar e transmitir, às novas gerações, o percurso das actividades de extracção do estanho e volfrâmio no Complexo Mineiro da Bejanca e em todo o concelho de Vouzela.

A razão próxima do livro é a celebração do centenário da descoberta da primeira mina que decorreu a 2 de Agosto naquele local.

Por acta, arquivada na Câmara de Vouzela, está documentado que a 12 de Agosto de 1915, José Marques do Vale, na altura com 27 anos, residente no lugar de Caria, freguesia de Queirã,  fez o primeiro registo  de uma mina de volfrâmio e estanho situada no lugar da Bajanca.

José Marques do Vale era tio-avô de Fernando Vale. O parentesco e as informações que os familiares e amigos lhe foram carreando, ao longo dos anos, serviram e impulsionaram o autor para a escrita.

Foram dez anos de árduo trabalho que se concretizaram numa obra completa, não só sobre a temática do volfrâmio a nível nacional, mas principalmente no âmbito regional.

Para além da temática ligada as ao ouro negro, outros apontamentos sobre o nosso património cultural estão ali bem descritos. Reporta-se à economia e cultura, desporto e lazer e tem ainda interessantes referência às festas e romarias tradicionais.

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As comemorações do centenário da descoberta da Mina da Bejanca decorreram, no local, a 2 de Agosto de 2015, sob a responsabilidade do Município de Vouzela.

Na altura foi ali colocado um memorial com inscrição alusiva aos empresários e operários que passaram por aquele centro mineiro.

Depois de missa campal, presidida pelo Bispo de Viseu, houve uma tarde recreativa onde participaram a Banda de Moçâmedes, o Rancho Folclórico de Vilar, o Grupo de Trajes e Cantares de Loumão, o Grupo de Cantares de S. Miguel do Mato, o Grupo de Harmónicas da Freguesia de Queirã e as Capuchinas de S. Silvestre de Vasconha.

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No auge da exploração mineira na Bejanca, trabalharam no local milhares de pessoas. Os alemães tornaram este couto mineiro no terceiro a nível nacional e um dos melhores na Europa. Houve mesmo cuidados e avanços em relação às condições de trabalho e apoio às famílias.

A nível técnico o principal avanço prendeu-se com a energia eléctrica. Foi construída, de propósito, uma linha de alta tensão que vinha da barragem do Lindoso, de Castro Daire até à Bejanca. Estes avanços tecnológicos levaram o pároco  de S. Miguel do Mato,cónego António Domingues Nunes, a convidar o Bispo da Guarda para verificar, no local, a modernidade das instalações, da exploração e tratamento do minério.

Ainda hoje, quem visita o local, repara numa imponente e artística torre ali deixada pelos engenheiros alemães.

De tempos a tempos, fala-se do recomeço da exploração mineira na Bejanca.

Se este interesse industrial e comercial não chegar, a paisagem continuará em silêncio com as trincheiras e as galerias de bocas abertas de espanto por tal abandono.

Se assim for, resta ao poder autárquico preservar e defender o local, encaminhando-o para um roteiro turístico que englobe outras regiões mineiras da rota do volfrâmio, minério que marcou a época de maior desenvolvimento em Portugal, no século vinte.

Fotos: Horácio Ribeiro

 

 

 

 

04
Set15

DE NOVO NA LAPA

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Foto: Horácio Ribeiro

Em Novembro de 2007, O Som da Gente esteve no lugar da Lapa, freguesia de Quintela, com o Padre Alves Amorim, reitor deste santuário.Não sabemos se o Padre Amorim ainda anda por lá.

Também não sabemos se os sonhos e os projectos que tinha, para o engrandecimento do lugar, foram concretizados. Esperamos que sim.

Da nossa visita, e o que fica para o auditório da Lafões, é esta minuciosa reportagem sobre um dos mais antigos santuários marianos de Portugal que teve recentemente a sua festa anual, a 15 de Agosto.

Com este programa, em reposição, recomeçamos depois de dois meses de férias.

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Aproveitamos para cumprimentar os muitos ouvintes que, em encontros ocasionais, simpaticamente nos cumprimentaram e deixaram palavras de elogio ao programa. É sempre gratificante saber que, para além da música tradicional que passamos, muitos ouvintes também se interessam pela história e pelas estórias do nosso bom povo da Beira.

Assim, condicionados pela nossa vida pessoal, vamos tentar que O Som da Gente continue a marcar presença na antena da Rádio Lafões, pelo menos por mais um ano. Umas vezes com reposições, outras com novas reportagens, vamos tentar continuar a andar por aí. 

05
Jun15

MEITRIZ

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O Som da Gente, no próximo programa, vai até aos limites do concelho de S. Pedro do Sul, na ponta mais ocidental, entrando já em domínios do concelho de Arouca.

Na imagem temos a bonita igreja de Janarde, paróquia que tem por padroeiro S. Barnabé..

Este pequeno templo está hoje enquadrado num largo bem arranjado ao lado de uma antiga casa de lavoura com gigantesco canastro. O granito das mesas deste canastro veio de Regoufe. As pesadas pedras foram transportadas, em carros de bois, e conta-se que, na altura, se matou uma vitela para compensar os pedreiros e o outro pessoal que se empenhou na dura empreitada.

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Meitriz é uma das povoações da freguesia de Janarde, lugar classificado e onde nasceu o nosso amigo Manuel Vinagre.

O nosso guia, aqui no centro da povoação, ao lado da casa que lhe serviu de escola e onde aprendeu as primeiras letras. Das dezenas de alunos da turma,  que na sua altura frequentaram a escola, leccionada por regente escolar, apenas dois seguiram estudos e só uma menina conseguiu formatura superior.

As casas de bonitas paredes de xisto,  cobertas de lousa, que, na altura, estavam cheias com ranchos de filhos estão hoje, na grande maioria, desabitadas.

Há décadas a emigração levou os homens na força da vida, primeiro para o Brasil e mais tarde para a França, Alemanha e Suíça.

Hoje as uvas americanas continuam a abrir com a canícula de Maio mas, já não se ouve o entoar dos manguais, na eira, que antigamente servia de recreio à miudagem da escola.

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E é pelas encostas de Meitriz, por entre belgas cultivadas ou a monte, que Manuel Vinagre nos vai levando, percorrendo os antigos caminhos que também ajudam a contar a história da sua terra.

Com ele fomos visitar um viveiro. É uma mina, ao cimo de uma terra de cultivo, hoje com um batatal. Aqui os antigos guardavam as bogas que, na altura da desova, iam pescar ao Paiva que corre, ao fundo, a duzentos metros. Transportavam a pescaria em sacos humedecidos de linho e aqui as guardavam, com porta de ferro, a sete chaves, para petiscarem pelo verão adiante ou para peitar o doutor ou outra visita especial.

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Hoje também as novas culturas chegaram a Meitriz. Numa encosta, em frente à belga onde fomos ver o viveiro, vislumbramos uma cultura de mirtilos, entre a mancha contínua de eucaliptos.

Pode ser que estas novas perspectivas de futuro tragam outra vez a vida a estas paragens.

Enquanto isso não acontece, a aldeia fica à curiosidade dos turistas na esperança que os filhos e netos voltem para conhecer e amar o berço dos seus antepassados.

E que esse apego ao passado, com o olhar posto no futuro, faça com que o amigo Manuel nos continue a contar, de um modo admirável as memórias da sua terra, como o vai fazer no próximo programa de O Som da Gente, na Rádio Lafões

 

 

08
Mai15

NA TERRA DE SALAZAR

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É aqui que estão as minhas raízes! Nas leiras e pinhais da minha aldeia, nos horizontes recortados pelo Caramulo e pela Estrela.

 

Ao lado da EN 2, no Vimieiro, em Santa Comba Dão, esta placa assinala a casa onde nasceu António de Oliveira Salazar.

Depois de ter sido lente na Universidade de Coimbra e Ministro das Finanças, em 1930, chega a Presidente do Conselho de Ministros, cargo que exerceu durante 38 anos. Em regime totalitário, Salazar teve a ajuda de uma polícia política que não evitou um atentado, em 1939, o sequestro do navio Santa Maria, uma tentativa de golpe de estado por parte de Botelho Moniz, a perda de Goa, Damão e Diu e o despoletar da Guerra Colonial.

A estas dores de cabeça do antigo regime, podemos acrescentar a contestação do Bispo do Porto,a revolta de Beja e a crise académica, nos anos sessenta.

As maiores alegrias do tempo de Salazar prendem-se com o evitar do envio de tropas portuguesas para a II Guerra Mundial, a Exposição do Mundo Português, em 1943, e principalmente o saneamento das finanças públicas.

Esta longa carreira política foi sempre aceite por Salazar como uma missão patriótica. Mas, mesmo esta predestinação do destino foi alvo do humor, muito próprio, que o caracterizava.

Quando tomou conta das Finanças, logo o antigo condiscípulo de Coimbra, Cardeal Cerejeira lhe enviou um bilhete com a missiva: António, foi Deus que te chamou para salvar a Nação.  A isto prontamente respondeu:Manuel, quem me chamou foi o José Vicente de Freitas, o presidente do Governo.

A personalidade de Salazar foi sempre mais de um rural que de um citadino:

É bom pisar o chão onde fortalecem as minhas cepas e cresce o milho das minhas broas.

Foi à procura desses traços de ruralidade e do que resta dos sinais de Salazar, no Vimieiro, que O Som da Gente foi até Santa Comba Dão.

Encontrámo-nos com um dois dois sobrinhos netos, Rui Salazar de Lucena e Melo.

 

Rui Salazar, nascido em Coimbra, filho de um médico militar e de uma filha de Laura, a irmã mais velha de Salazar, vive hoje ao lado da escola que o povo diz que foi mandada construir pelo ex-governante. Ora, pelo que o sobrinho nos contou, não é bem assim.

Esta escola-cantina foi doada à terra por uns brasileiros que, com esta oferta, quiseram presentear o Presidente do Conselho de Ministros.

Segundo nos contou o mesmo familiar, esta não foi a primeira escola  do Vimieiro. Essa era numa casa térrea, em terrenos do pai de Salazar, a quem o Ministério da Educação pagava renda.

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Esta é actualmente a parte da casa onde nasceu e viveu Salazar. Era por esta porta que geralmente Salazar entrava e não pela frente que ladeia a estrada Viseu - Coimbra.

Embora gostasse de dizer que era pobre filho de pobres, recuando no tempo, a casa e a quinta situam a sua família na classe média.

O pai de Salazar, no início, teria ganho algum dinheiro com o alojamento do pessoal da renovação da Linha da Beira Alta e, como feitor dos Perestrelo, também teria angariado posses para comprar algumas das propriedades desta família fidalga.

A esta herança, Salazar teria ainda acrescentado mais algumas propriedades que entretanto adquiriu a outros vizinhos.

A quinta que foi atravessada pelo IP3, actualmente em estado de abandono, revela ainda o que seria, na altura, uma boa herdade de produção agrícola, a nível de cereais e animais domésticos

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Para além das propriedades junta à casa, Salazar plantou, noutro local, uma vinha que produzia o vinho Quinta das Ladeiras. Ainda hoje restam algumas garrafas com vinho do seu tempo.

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Quando entramos na casa, pela tal porta das traseiras, lá encontramos também,  desmontada, a mobília de quarto.

Nos outros aposentos, dezenas de sacos de lixo guardam livros, outros documentos e objectos.

Na Câmara Municipal muitos outros bens pessoais de Salazar esperam também classificação e tratamento.

A preservação da casa e de tudo isto passa pelo entendimento com o outro sobrinho de Salazar visto que Rui Salazar já doou a sua parte à autarquia.

 

Noutra casa do Vimeiro, estão bens que vieram de Lisboa. Uns sofás, uma secretária e o rádio onde Salazar ouvia a BBC e a Voz de Argel, em ondas curtas. Estes são bens particulares de Salazar, reafirma-nos insistentemente o sobrinho. O que era do estado ficou em Lisboa, outro espólio está na Torre do Tombo.

Este material está numa casa, perto da estação ferroviária do Vimieiro, e foi já sede do N.E.O.S. (Núcleo de Estudos Oliveira Salazar que, segundo nos disseram, brevemente passará a ter sede nos arredores de Lisboa.

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Antes de deixarmos a casa e quinta de Salazar, reparámos num velho automóvel que era do pai de Rui Salazar e que o sobrinho emprestava ao tio quando Salazar passava férias no Vimieiro.

Continua a distinção entre o particular e o público. Em férias, nem o carro, nem o motorista eram do estado.

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Salazar repousa hoje, em silêncio, por baixo de pesada laje tosca de granito, no cemitério do Vimieiro. Se para alguns continua a merecer respeito, a os outros, também já não mete medo. Pelo estado de abandono dos seus bens, a muitos dos seus conterrâneos falta sobretudo coragem para decidirem o que fazer com este património.

Coragem que não faltou a um comerciante de Torres Novas que, em pleno PREC, veio ao Vimieiro colocar pesada pedra que ainda hoje se encontra na cabeceira da sepultura e onde se pode ler: havemos de chorar os mortos se os vivos o não merecerem.

 

Os nomes dos políticos só devem ser dados a monumentos e obras públicas, cem ou duzentos anos depois da sua morte...

Acreditando nestas palavras de Salazar, o tempo de se fazer a história ainda não chegou.

Até lá, vão-se divulgando factos e opiniões que podem, ou não, ajudar a fazer essa história.

Por agora, o julgamento da vida deste e doutros políticos  fica para o ouvinte ou o leitor. Não nos substituímos a ninguém em juízos de valor.

Para o post de hoje socorremo-nos do livro O Diário de Salazar, da autoria de António Trabulo e do site Vidas Lusófonas onde Fernando Correia da Silva, exilado político, no tempo de Salazar, faz interessante biografia da personalidade a que se refere o programa de hoje. Faça uma visita: http://www.vidaslusofonas.pt/salazar.htm.

Fotos:Alcides Riquito

 

 

13
Mar15

O BARRO NEGRO DE MOLELOS

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António Manuel Matos Marques, com 45 anos, é um dos jovens oleiros que teimam em continuar a arte de moldar e cozer o barro na freguesia de Molelos.

Numa tradição familiar, aprendeu a arte com o tio António Ribeiro que entretanto tinha regressado da Alemanha onde estivera emigrado.

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A matéria prima usada é extraída nas redondezas, em Molelinhos e em Canas de Santa Maria. Geralmente o barro é usado em mistura mas, em peças que exigem uma moldagem mais minuciosa,  usa-se apenas o de Canas por ser mais gordo.

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À semelhança do que acontecia no passado, são muitas as peças do barro preto de Molelos que se destinam à cozinha: panelas, potes, assadeiras, padelas... Depois os novos oleiros acrescentaram algumas peças de decoração: castiçais, copos, resguardos para as boxes do vinho e sempre as interessantes cantarinhas de segredo, tradicionalmente o emblema da louça de Molelos.

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Depois do barro moldado  e brunido - alisamento com seixo ou pau de buxo - para dar o brilho metálico, o barro é cozido a altas temperaturas.

Esta cozedura é hoje feita em fornos que faz o mesmo que antigamente quando se coziam as peças numa cova escavada no solo usando a caruma e a lenha de pinheiro como combustível. Esta técnica é a chamada soenga.

António Manuel foi já à Alemanha demonstrar esta técnica artesanal que foi muita apreciada pelos germânicos.

A música que acompanha esta reportagem de O Som da Gente é do rancho As Cantarinhas de Molelos fundado em 11 de Novembro de 1947.

Fotos:Alcides Riquito

 

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