CENTENÁRIO DAS MINAS DA BEJANCA
O Dr. Fernando Vale, nasceu no lugar de Lufinha, freguesia de Ribafeita, concelho de Viseu e vive a dois passos deste lugar, em Lourosa da Comenda, concelho de Vouzela.
Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas. Para além da docência, tem vindo a registar grande actividade literária e editorial.
A última obra do Dr. Fernando Vale é uma edição feita pelo Município de Vouzela.
Minas da Bejanca, História(s) de Terras e Gentes
Como o próprio autor refere, em nota prévia, esta obra pretende reconstituir, analisar e transmitir, às novas gerações, o percurso das actividades de extracção do estanho e volfrâmio no Complexo Mineiro da Bejanca e em todo o concelho de Vouzela.
A razão próxima do livro é a celebração do centenário da descoberta da primeira mina que decorreu a 2 de Agosto naquele local.
Por acta, arquivada na Câmara de Vouzela, está documentado que a 12 de Agosto de 1915, José Marques do Vale, na altura com 27 anos, residente no lugar de Caria, freguesia de Queirã, fez o primeiro registo de uma mina de volfrâmio e estanho situada no lugar da Bajanca.
José Marques do Vale era tio-avô de Fernando Vale. O parentesco e as informações que os familiares e amigos lhe foram carreando, ao longo dos anos, serviram e impulsionaram o autor para a escrita.
Foram dez anos de árduo trabalho que se concretizaram numa obra completa, não só sobre a temática do volfrâmio a nível nacional, mas principalmente no âmbito regional.
Para além da temática ligada as ao ouro negro, outros apontamentos sobre o nosso património cultural estão ali bem descritos. Reporta-se à economia e cultura, desporto e lazer e tem ainda interessantes referência às festas e romarias tradicionais.
As comemorações do centenário da descoberta da Mina da Bejanca decorreram, no local, a 2 de Agosto de 2015, sob a responsabilidade do Município de Vouzela.
Na altura foi ali colocado um memorial com inscrição alusiva aos empresários e operários que passaram por aquele centro mineiro.
Depois de missa campal, presidida pelo Bispo de Viseu, houve uma tarde recreativa onde participaram a Banda de Moçâmedes, o Rancho Folclórico de Vilar, o Grupo de Trajes e Cantares de Loumão, o Grupo de Cantares de S. Miguel do Mato, o Grupo de Harmónicas da Freguesia de Queirã e as Capuchinas de S. Silvestre de Vasconha.
No auge da exploração mineira na Bejanca, trabalharam no local milhares de pessoas. Os alemães tornaram este couto mineiro no terceiro a nível nacional e um dos melhores na Europa. Houve mesmo cuidados e avanços em relação às condições de trabalho e apoio às famílias.
A nível técnico o principal avanço prendeu-se com a energia eléctrica. Foi construída, de propósito, uma linha de alta tensão que vinha da barragem do Lindoso, de Castro Daire até à Bejanca. Estes avanços tecnológicos levaram o pároco de S. Miguel do Mato,cónego António Domingues Nunes, a convidar o Bispo da Guarda para verificar, no local, a modernidade das instalações, da exploração e tratamento do minério.
Ainda hoje, quem visita o local, repara numa imponente e artística torre ali deixada pelos engenheiros alemães.
De tempos a tempos, fala-se do recomeço da exploração mineira na Bejanca.
Se este interesse industrial e comercial não chegar, a paisagem continuará em silêncio com as trincheiras e as galerias de bocas abertas de espanto por tal abandono.
Se assim for, resta ao poder autárquico preservar e defender o local, encaminhando-o para um roteiro turístico que englobe outras regiões mineiras da rota do volfrâmio, minério que marcou a época de maior desenvolvimento em Portugal, no século vinte.
Fotos: Horácio Ribeiro